Muitas organizações estão no mercado há anos ou décadas, ganhando dinheiro, expandindo mercados, superando crises e crescendo seus negócios. Porém, algo não vai bem. As pessoas estão insatisfeitas! Muitos reclamam. Clientes, gestores, líderes, colaboradores e, até mesmo, donos de empresas. O desempenho e os resultados já não são mais os mesmos. As taxas de crescimento vêm diminuindo. Muitos problemas são diariamente diagnosticados e, mesmo quando a maioria das pessoas os enxergam, não conseguem resolver, mudar, tampouco melhorar.

Na maioria das vezes, os problemas não são causados diretamente por aqueles que atualmente fazem parte da organização. Grande parte é fruto da própria cultura organizacional. Enraizada. Plantada e alimentada pelos maus hábitos ou práticas ultrapassadas, e que os atuais gestores, líderes e demais pessoas não conseguem mudar, por estarem envolvidos demais, por não terem autonomia, ou simplesmente por não perceberem ou entenderem a necessidade de mudança.

Há muito tempo a sociedade não passava por um processo tão profundo de transformação nas relações sociais e nos meios de produção. A maneira como encaramos as novas divisões de trabalho, as dinâmicas humanas e a forma como usamos e compartilhamos a informação mudou significativamente nos últimos anos. E a tendência é que irá mudar cada vez mais (e mais rápido).

Mudanças são inevitáveis e, como teria dito Charles Darwin, “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. Os tempos são outros, as pessoas são outras, as empresas são outras, o mercado é outro. Todo dia é um dia de superação! Tendemos a ser melhores do que fomos no dia anterior, somos fortes, avançamos na vida e abraçamos a esperança de dias melhores, mesmo com todos os contratempos que ela nos reserva. Isso é ser “ágil”.

Conceito de agilidade organizacional

O conceito de agilidade organizacional não tem nada a ver com ser rápido, não quer dizer fazer as coisas depressa. A agilidade organizacional é um conjunto de valores e princípios que quando entendidos, compreendidos e absorvidos pela organização, proveem um ambiente fortalecido e preparado para lidar com as adversidades que venham a acontecer.

Nos últimos anos, o conceito de agilidade organizacional vem rompendo paradigmas, transformando e revolucionando mercados, empresas, modelos de negócio e gestão, por meio de práticas enxutas e ambientes colaborativos que simplificam os processos de desenvolvimento, inovação e lançamento de produtos e serviços para o mercado.

A agilidade tem se mostrado cada vez mais importante para as organizações, principalmente nos níveis atuais de incerteza e ambiguidade em que vivemos. Ser ágil é mais do que seguir regras pré-estabelecidas por algum livro ou artigo científico; ser ágil é uma filosofia de vida, é focar na colaboração, transparência, adaptação, satisfação, motivação, sustentabilidade, simplicidade e melhoria contínua.

Uma organização ágil é aquela que responde rapidamente a forças externas e aproveita as oportunidades, convive com e gerencia os riscos aos quais está exposta, oferece produtos e serviços no padrão de tempo, custo e qualidade requeridos por seus clientes, pensa fora da caixa e trabalha pesado para reduzir o desperdício e sempre ser melhor do que foi no dia anterior.

Princípios ágeis

Os princípios ágeis defendem um ambiente colaborativo, promovido por meio da auto-organização e autogestão de equipes (ou times), compostos por pessoas das mais diversas competências e perfis, em torno e na busca de um objetivo comum e maior. Ambientes ágeis atuam em uma nova dinâmica de autonomia, liberdade, confiança, transparência, engajamento, experimentação, crescimento e melhoria contínua. Processos e ferramentas de trabalho, documentação abrangente, negociação de contratos e planejamentos de longo prazo não são incentivados em um ambiente ágil. Estão presentes no dia a dia, mas não devem guiar a organização. Uma organização ágil foca principalmente nas pessoas, nos seus colaboradores e nos seus clientes.

Quando o foco muda do processo para as pessoas, o processo deixa de ser estressante, a rotina não causa desmotivação e a qualidade se faz presente, pois tudo está em constante evolução. A mudança é bem vista, processos são revistos, novas práticas são experimentadas. Tudo isso com um único objetivo: melhorar cada vez mais.

Partindo do princípio que, em um ambiente ágil, as pessoas são o foco e as demandantes da agilidade, a atenção deve estar na agilidade oferecida pelo processo e nos métodos utilizados para desenvolver ou gerenciar estes processos. Uma organização ágil abraça a mudança movendo-se rápida, decisiva e eficazmente para antecipar e aproveitar a mudança, utilizando-a como fator competitivo. Para isso, é de suma importância um processo flexível – ou seja, um processo ágil.

Isso se confirma, inclusive, por uma pesquisa realizada pela Gartner há poucos anos, que revelou que a adoção de métodos ágeis é uma tendência que chegou para ficar e atingiu em 2018 cerca de 75% das empresas de TI e afins.

Por onde começar?

Responder a essa pergunta é fácil. Difícil é colocar em prática, pois requer muito trabalho e disposição dos envolvidos.

  1.       Primeiramente, um objetivo comum deve ser incorporado por toda a organização;
  2.       Em segundo, as equipes devem estar conectadas entre si;
  3.       Em terceiro, devem ocorrer decisões rápidas e ciclos de aprendizados;
  4.       Em quarto, deve existir um modelo de gestão dinâmica que incentiva;
  5.       Por último, a presença de tecnologia de ponta (para suportar as mudanças).

Organizações ágeis são aquelas capazes de atingir seus objetivos ao mesmo tempo que engajam indivíduos em torno de um propósito único bem definido e se preocupam em possuir e manter os talentos necessários para realizar toda esta jornada. Dentre tantos benefícios que a agilidade organizacional proporciona, abaixo estão alguns:

  •       Curto tempo de resposta ao ambiente externo;
  •       Processos mais eficientes;
  •       Excelência no atendimento ao cliente;
  •       Desempenho satisfatório no resultado operacional;
  •       Redução de retrabalho e custos;
  •       Menor tempo para a tomada de decisão;
  •       Foco na gestão de mudança;
  •       Gerenciamento de riscos;
  •       Planejamento de contingências;
  •       Equipe capacitada para projetos interdisciplinares.

Até onde ir?

A fronteira entre o que deve e o que não deve ser ágil é bem difícil de se mapear. Deixar esta fronteira nítida é importante. Nos últimos anos, a agilidade tem se mostrado muito mais do que um modelo para times trabalhando em projetos de software. Pode-se influenciar desde a maneira como um código-fonte é feito até toda a forma como uma empresa funciona.

Basicamente, a agilidade organizacional tem quatro domínios: Negócio, Cultural, Técnico e Organizacional. No domínio de Negócio se encontram os assuntos ligados aos produtos e objetivos da empresa. Já no domínio Cultural, o foco está nas relações humanas. O Organizacional é mais ligado à forma de trabalho dos times. No domínio Técnico há uma atenção para a forma como o trabalho é feito pelo time.

O sucesso de uma empresa está estreitamente relacionado a que tipo de relação ela mantém com seus colaboradores e clientes. Já não é mais possível contar apenas com métodos ortodoxos para garantir reconhecimento. É necessário e urgente que as organizações revejam a forma como se estruturam, como seus processos funcionam e como interagem com os seus colaboradores e clientes. A agilidade organizacional é uma competência, não um método. Para que uma organização se torne ágil, ela precisa de pessoas que sejam ágeis em seus pensamentos, suas ações e em suas práticas. A mentalidade ágil sustenta a capacidade de ser verdadeiramente ágil no que faz e entrega, explorando possibilidades com intensa curiosidade e com uma visão de oportunidade.

Para concluir, uma organização é um organismo vivo e precisa se adaptar ao ambiente em que está inserida. No entanto, toda mudança implica em risco – apesar de o maior risco estar em não mudar. Quando a organização passar a enxergar a mudança como uma coisa normal, e a falta de mudança como uma exceção, ela poderá se considerar ágil.

Sobre o autor:

 

 

 

Agilista com especialização em Engenharia de Software, Edmilton trabalha com metodologias ágeis desde 2015. Atualmente, é analista de sistemas na BHS desempenhando diversos papéis no setor de desenvolvimento.

Referências

  • BARBOSA, Andy. “A Essência do Agile Coach”. 1ª Edição. Agile Institute Brasil. 2018.